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Minicurso discute trabalho familiar na agricultura
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Agenotic
Carolina
Vaz
A desvalorização das funções desempenhadas por crianças e
mulheres na agricultura familiar no Brasil do século XIX aos dias atuais foi o
centro da discussão da professora de
geografia Maria Luiza de Oliveira no minicurso “Trabalho familiar e gênero na
agricultura brasileira”. Após mais de um século do início da prática da
agricultura familiar no país, poucas mudanças ocorreram na exploração do
trabalho infantil e feminino nas fazendas e pequenas propriedades. O evento foi
realizado ontem, 20, integrado à
programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
A agricultura familiar no país teve início com o fim da
escravidão. No sistema de colonato, toda a família trabalhava pela produção e
pela subsistência. O pai fazia o trabalho da lavoura, cultivo e colheita com
ajuda da família. A mulher e os filhos, além de trabalharem em atividades de
subsistência, cuidavam dos animais, dos alimentos e da manutenção da casa.O
trabalho do homem, fora de casa, era considerado produtivo, pois tinha valor
econômico, e das mulheres e crianças, fora e dentro de casa, reprodutivo. Mas
apenas o homem recebia pagamento pelo trabalho. As atividades da mulher e das
crianças eram consideradas atividades de ajuda ao pai, mas não trabalho de verdade.
A palestrante conta que com o tempo tornou-se difícil manter
a pequena propriedade. Fatores como a falta de subsídios, a modernização do
campo, a concentração de terras e as pressões de grandes fazendeiros e empresas
pela compra das propriedades foram determinantes para as dificuldades do
pequeno produtor. Além disso, a industrialização e a urbanização geraram êxodo
rural e subempregos nas cidades. Maria Luiza Oliveira afirma que, apesar de
todas estas mudanças, ainda hoje as famílias de produtores no campo têm as
mesmas características da exploração do trabalho feminino.
No Salão Azul, o público do curso, formado por alunos de Geografia e
Licenciatura em Ciências Agrícolas,
questionou a professora sobre o sistema de agricultura atual e o Movimento
dos Sem-Terra. Luana Gava, 20 anos, estudante do quarto período de Geografia,
considera o assunto importante para sua formação. “A geografia agrária é uma
área de destaque e a agricultura familiar é ainda muito comum no país”, diz a
estudante, proveniente do interior do Espírito Santo. Pela sua origem, ela se identifica com o contexto apresentado
no minicurso, mas acredita que é uma realidade desconhecida pelas pessoas dos
grandes centros urbanos.